quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Meus 80

Cacau Siqueira

















Há tanto tempo eu me lembro quando era pequeno
Brincando na rua descalço e a chuva era o meu chuveiro
Viajando e pensando nos anos que eu já vivi
De criança á terceira idade não é tarde pra refletir
Tive tempo de falar e tempo de ficar calado
Tempo de rasgar e costurar o que se foi rasgado
Tempo que foi, tempo que não volta mais
Tempo que vivi a dois, agora só tempo de guerra e paz
Não pude parar o tempo, nem mudar a curva do vento       
Mas com dificuldade eu tento tirar proveito do meu sofrimento
Meu pensamento lento quanto raciocínio
Olhos de visão nublada com dedos pouco domínio
Somos todos como fruta que amadurece e logo apodrece
Nasce como a flor e murcha, como sobra some não permanece
Num piscar de olhos se lembra e depois esquece
Alegra e se entristece, acorda e logo adormece
Tem quem envelhece e não investe pra amadurecer
Enriquece de tanto estresse diminui ao invés de crescer
O esporte que ainda pratico e invisto é o meu bom humor
A oração diária ao Pai é analgésico que alivia a dor
Sou testemunha do passado, inspirador do futuro
Sei que de passo calmo vivo presente sigo o rumo
Andando, parando, dorme, acorda, levanta, asceta
Vencendo, vivendo, me envolvendo nos meus oitenta

Refrão

Vou na paz, vou com Pai que Ele trás
A lâmpada que me ilumina, o que através da morte trás a vida
O que cura o corte e cicatriza
Vou na paz, vou com Pai que ele trás, o som que da trombeta toca
Não vejo a hora de ir embora, de dormir e acordar na gloria.

Lembrei do meu criador nos dias da minha mocidade
Com força no redentor em vigor cheguei nesta idade
Quero sempre trazer a lembrança o que me da esperança
Tentar fazer com que meu coração seja igual de criança
Mas a preocupação e o desespero, fez meu rosto enrugar mais cedo
O cabelo que era preto branco o passo que antes rápido lento
Quando novo quis ficar velho pra viver logo em liberdade
E de velho quis ficar novo pra viver mais na vaidade
As dores no corpo me visitou antes que a minha experiência
Minha amiga bengala me conquistou e pra andar deu mais resistência
Feliz aquele que entende que sou limitado
E que fisicamente demorado eu chego ao destinatário
Feliz o que ignora o café que eu derrubei na mesa
E com muita paciência me ensina o que seja pra que eu entenda
Feliz aquele que compreende minha dificuldade para ouvir
E os que me dão atenção com satisfação me fazem sorrir
Feliz o que me faz sentir que por Deus eu sou muito amado
E se todos esquecerem min por ele jamais abandonado
Sei que pra muitos eu sou uma rocha de tropeço
E até pros meus próprios filhos no meio do sonho sou um pesadelo          
Vejo, mas esqueço não deixo afetar o meu coração
Percebo e sei que esse é o preço a ser pago com humilhação
Mas sou cristão e por isso que insisto o velho aqui agüenta
Lamento por ser tão rápido a chegada dos meus oitenta

Refrão

Agilidades com as mãos me lembro de quando tinha
Rápido com as pernas, membros, ossos, saúde encima
Com lágrimas plantei alegrias foi o que colhi
Com enfermidades andei na fé cheguei até aqui
Ao meu redor desbota a cor, meu canto desafinou
Eu perdi o perfume da flor, meu arco-íris ficou incolor
Tento ser otimista mesmo quando me sinto triste
Sento no meu canto, escrevo e canto vou no limite
Do tom da minha voz tremula gasta e meio baixa
Perdendo o dom desafinado, compunha o que cantava
Deixo pegadas de exemplos mascadas de bom aqui
Quero ensinar o que eu aprendi, até com os erros que eu já cometi
Vivi mais do que vou viver, mas ainda tenho alguns dias
Pra onde vou não existe dor o sofredor vai pra eterna vida
Obrigado Deus por manter em min sua chama viva
Apesar de toda fadiga, eu vou até o fim na minha árdua corrida
Entendo agora que a morte e melhor que o nascimento
E que o final das coisas é melhor que o seu começo
Às vezes a magoa é melhor do que o sorriso no rosto
Envelhecer, melhor que tentar ficar cada vez mais novo
Prefiro que vão ao meu velório pra reflexão dos que irão me ver
Do que irem ao meu aniversario, porque pouco proveito vão ter
Aguardo a morte, disposto e forte o velho coração agüenta
Com visto de Cristo no passaporte no porte dos meus oitenta

Refrão


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